Nossa mãe não pôde estudar o quanto desejava. Completou o quarto ano primário. Mas transmitiu muito bem os valores essenciais da vida, nos fazendo entender que as escolas transmitem conhecimento, educação a gente tem em casa. Meus irmãos e eu sabemos muito bem o que é certo e errado.
Há muitas formas de ser mãe. A nossa, Dona Milian (com L mesmo, embora todos pensem e digam R), optou por ser do jeito convencional. Casou-se, engravidou quatro vezes até que eu pudesse nascer e depois de mim, outras duas filhas. Em oito anos, teve seis filhos.
Imaginem a fase de fraldas e mamadeiras.
Tive dois filhos e penso que no passado as mulheres eram mais corajosas.
Mas adotou muitos outros em sua jornada que sempre estão por perto.
Foi e é uma mulher paciente e trabalhadora. Adora crianças e até hoje a sua maior alegria é ver as suas crianças (hoje na casa dos 50 anos), dos seus netos (na casa dos 20 anos) e da sua bisneta (perto de completar 2 anos), ao seu entorno.
Muitas vezes livrou-nos da rigidez do meu pai, protegendo-nos das explosões que eventualmente sua carga de trabalho lhe causava. Coitado.
Em minhas memórias mais representativas a vejo chegar dirigindo uma kombi nos anos 70 e carregando não apenas os seus filhos, mas todos os outros que os pais entregavam à ela, em confiança, para os passeios mais insanos: Centro Esportivo Municipal na Zona Sul de São Paulo, Parque do Ibirapuera, Zoológico e tantos outros. Minha mãe foi uma mulher moderna apesar da sociedade estranhar sua independência.
Mas não pense que ela se contentou com o rótulo "do lar" que as mães que optam por cuidar dos próprios filhos levam... ao invés de dedicar-se à outras carreiras. Minha mãe fez crochê, tricô, ponto cruz, vendeu Avon e Natura de porta em porta, pintou quadros, teve loja e escola de artesanato....nunca a vi sem uma ocupação e sem a condição de comprar as suas e as nossas lingeries. Sempre tínhamos uma roupa nova para as datas comemorativas. Minha mãe é vaidosa e com ela aprendi de que não se sai de casa sem pentear os cabelos ou passar um batom.
Com ela aprendi a ouvir Nelson Gonçalves, Lupicínio Rodrigues, Noite Ilustrada, Ray Connif com as grandes orquestras e tantos outros que só me fizeram entender o quanto a música pode traduzir a felicidade, a grandeza e as tristezas de quem viveu.
Minha mãe recebeu nossos amigos na infância e adolescência como se fossem sobrinhos dela e muitos deles ainda a chamam de "Tia Miriam". Mundos de comidas e louça pra lavar, hahah.
Depois nossos namorados e namoradas...sabe as datas de aniversário de seus genros, noras, netos e bisneta de cor...o ponto cruz preservou a sua memória. Graças a Deus.
Todos que a conhecem a admiram e para nós isso é um orgulho.
Dona Milian ficou viúva cedo e pensamos, apesar de ter saudades de nosso pai, que ela merecia um companheiro a vida toda...mas, a vida não foi assim.
Por tudo que somos....por tudo que nos ensinou...pelo privilégio de tê-la por perto com saúde por tantos anos, para aproveitar o que é melhor nessa história toda: os bons momentos, nós agradecemos a Deus!
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